Investidor quer retorno de 20% ao ano, mas está fora da realidade, diz economista - InfoMoney
Uma pesquisa da Anbima (Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capital) mostrou que grande parte das pessoas que começa a investir procura uma rentabilidade de cerca de 20% ao ano - o que demonstra que elas estão muito alheias em relação a atual conjuntura econômica e o cenário de investimentos do país. O economista e professor do Insper Eduardo Giannetti, que participou do 7º Congresso Anbima de Fundos de Investimento - Novos Caminhos. Novos Olhares – lembrou que as taxas de retorno de dois dígitos desapareceram do nosso cenário.
“Uma taxa de retorno de 20% ao ano é algo totalmente desconectado da realidade em qualquer lugar do mundo. No Brasil, isso foi realidade há muito tempo. Nós nos acostumamos com uma zona de conforto nesse país, em termos de retorno para aplicação financeira, que era um mundo de alto retorno, baixíssimo risco e total liquidez, tudo ao mesmo tempo. Em momentos de aflição, que tinha algum problema de solvência do estado e etc., a psicologia do poupador brasileiro era bem resumida naquela ideia de que ‘a festa está boa, mas é bom ficar perto da porta, pois a qualquer momento posso querer sair’. Liquidez total e imediata”, explicou o economista.
Ainda de acordo com ele, o investidor deve aprender que maior retorno necessariamente implica em maior risco. “Nós vamos ter que aceitar que existem muitos perfis diferentes de investimento, tanto por conta do poupador e suas características pessoais, quanto do seu momento da vida. Tudo isso precisa ser refinado, pois existe uma sofisticação muito maior do que era o caso até um passado recente, no qual bastava você ter um dinheiro aplicado em qualquer renda fixa para ter um retorno de dois dígitos com uma inflação razoavelmente baixa.”
A importância do Juro Composto
Para Giannetti, pode-se notar que as pessoas subestimam o quão difícil é obter altas taxas de retorno real de seus investimentos, ainda mais em um ambiente tão distorcido como o brasileiro. Ao mesmo tempo, subestimam o valor que as taxas aparentemente pequenas produzem cumulativamente ao longo do tempo.
“É muito difícil para as pessoas apreciar o poder do crescimento exponencial. O efeito do crescimento exponencial é algo absurdo. É uma coisa que as pessoas não assimilam o que significa cumulativamente dobrar e crescer exponencialmente. Exemplo: se você tem uma taxa de retorno de 3,5% ao ano, seu capital inicialmente aplicado dobra em 20 anos. Agora, se você tem um ganho adicional de 1,5% ao ano, ficando com uma taxa de retorno de 5% ao ano, quanto tempo precisa pra dobrar o capital? 14 anos. Ou seja, 1,5% ao ano a mais, cumulativamente, reduz 6 anos o tempo necessário para dobrar o capital. Essa magica do juro composto o Einstein chamava de oitava maravilha do mundo”, explicou o professor.
É uma coisa difícil, para quem não é do ramo, de levar em conta, mas é o que acaba fazendo diferença.
Um estudo feito com universidades americanas mostrou que mesmo os estudantes das melhores universidades do mundo não se dão conta que 1% a mais de retorno quando a taxa de retorno é baixa não é equivalente a 1% a mais na taxa de retorno quando a taxa de retorno é alta. Eles acham que 1% a mais é 1% a mais e o resultado é o mesmo, só que na verdade é totalmente diferente. “Se você aplicar 10 mil dólares durante 10 anos e a rentabilidade passar de 2% a 3% ao ano, o delta (ganho adicional) é US$ 1.249. Agora, se a taxa fosse 12% e passasse para 13% ao ano, mesmo valor, mesmo período, o delta viraria US$ 2.877. É 1% ao ano cumulativamente replicado em cima de um montante muito maior. Faz muita diferença”, completou.
Em resumo, um retorno um pouco maior não é tão relevante em um ambiente de taxas reduzidas quanto as pessoas acreditam, diferente do que é o caso quando as taxas são elevadas. Pessoas incapazes de admirar o poder do crescimento exponencial em aplicações financeiras tendem a poupar 40% a menos daquelas que apreciam o poder disso. Ou seja, em um mundo com baixas taxas de retorno, o mais inteligente a fazer não é escalar o risco e ter uma atitude extremamente agressiva de correr risco para aumentar 1% ou 2% a taxa de retorno quando ela é muito baixa, não é correr de um lado para o outro no rebalanceamento da carteira com uma mudança frequente e constante e nem espremer cada milímetro de rentabilidade. Claro, quanto maior a taxa de retorno, a rentabilidade é melhor, mas o que vai fazer diferença é poupar uma fatia maior da renda, começar mais cedo e alongar os horizontes de aplicação.
O segredo é poupar mais e o quanto antes“O segredo é começar a poupar cedo, bem antes de chegar no fantasma da aposentadoria, quando não da mais tempo. Começar cedo faz muita diferença, tem que aumentar a parcela da renda poupável. Esse é o movimento de oferta e demanda de poupança que temos que fazer no Brasil. Claro, adiar o consumo é muito mais difícil do que acreditar em alquimia financeira na escolha de um fundo de alta rentabilidade, mas é essa mensagem que tem que ser amadurecida agora que nós ingressamos em um mundo de retorno mais parecido com o que já existe em países mais maduros. Os gestores tem que ensinar a poupar mais, poupar mais cedo e a pensar em horizontes maiores do que o que nós temos no Brasil”, finalizou Giannetti.
Uma pesquisa da Anbima (Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capital) mostrou que grande parte das pessoas que começa a investir procura uma rentabilidade de cerca de 20% ao ano - o que demonstra que elas estão muito alheias em relação a atual conjuntura econômica e o cenário de investimentos do país. O economista e professor do Insper Eduardo Giannetti, que participou do 7º Congresso Anbima de Fundos de Investimento - Novos Caminhos. Novos Olhares – lembrou que as taxas de retorno de dois dígitos desapareceram do nosso cenário.
“Uma taxa de retorno de 20% ao ano é algo totalmente desconectado da realidade em qualquer lugar do mundo. No Brasil, isso foi realidade há muito tempo. Nós nos acostumamos com uma zona de conforto nesse país, em termos de retorno para aplicação financeira, que era um mundo de alto retorno, baixíssimo risco e total liquidez, tudo ao mesmo tempo. Em momentos de aflição, que tinha algum problema de solvência do estado e etc., a psicologia do poupador brasileiro era bem resumida naquela ideia de que ‘a festa está boa, mas é bom ficar perto da porta, pois a qualquer momento posso querer sair’. Liquidez total e imediata”, explicou o economista.
Ainda de acordo com ele, o investidor deve aprender que maior retorno necessariamente implica em maior risco. “Nós vamos ter que aceitar que existem muitos perfis diferentes de investimento, tanto por conta do poupador e suas características pessoais, quanto do seu momento da vida. Tudo isso precisa ser refinado, pois existe uma sofisticação muito maior do que era o caso até um passado recente, no qual bastava você ter um dinheiro aplicado em qualquer renda fixa para ter um retorno de dois dígitos com uma inflação razoavelmente baixa.”
A importância do Juro Composto
Para Giannetti, pode-se notar que as pessoas subestimam o quão difícil é obter altas taxas de retorno real de seus investimentos, ainda mais em um ambiente tão distorcido como o brasileiro. Ao mesmo tempo, subestimam o valor que as taxas aparentemente pequenas produzem cumulativamente ao longo do tempo.
“É muito difícil para as pessoas apreciar o poder do crescimento exponencial. O efeito do crescimento exponencial é algo absurdo. É uma coisa que as pessoas não assimilam o que significa cumulativamente dobrar e crescer exponencialmente. Exemplo: se você tem uma taxa de retorno de 3,5% ao ano, seu capital inicialmente aplicado dobra em 20 anos. Agora, se você tem um ganho adicional de 1,5% ao ano, ficando com uma taxa de retorno de 5% ao ano, quanto tempo precisa pra dobrar o capital? 14 anos. Ou seja, 1,5% ao ano a mais, cumulativamente, reduz 6 anos o tempo necessário para dobrar o capital. Essa magica do juro composto o Einstein chamava de oitava maravilha do mundo”, explicou o professor.
É uma coisa difícil, para quem não é do ramo, de levar em conta, mas é o que acaba fazendo diferença.
Um estudo feito com universidades americanas mostrou que mesmo os estudantes das melhores universidades do mundo não se dão conta que 1% a mais de retorno quando a taxa de retorno é baixa não é equivalente a 1% a mais na taxa de retorno quando a taxa de retorno é alta. Eles acham que 1% a mais é 1% a mais e o resultado é o mesmo, só que na verdade é totalmente diferente. “Se você aplicar 10 mil dólares durante 10 anos e a rentabilidade passar de 2% a 3% ao ano, o delta (ganho adicional) é US$ 1.249. Agora, se a taxa fosse 12% e passasse para 13% ao ano, mesmo valor, mesmo período, o delta viraria US$ 2.877. É 1% ao ano cumulativamente replicado em cima de um montante muito maior. Faz muita diferença”, completou.
Em resumo, um retorno um pouco maior não é tão relevante em um ambiente de taxas reduzidas quanto as pessoas acreditam, diferente do que é o caso quando as taxas são elevadas. Pessoas incapazes de admirar o poder do crescimento exponencial em aplicações financeiras tendem a poupar 40% a menos daquelas que apreciam o poder disso. Ou seja, em um mundo com baixas taxas de retorno, o mais inteligente a fazer não é escalar o risco e ter uma atitude extremamente agressiva de correr risco para aumentar 1% ou 2% a taxa de retorno quando ela é muito baixa, não é correr de um lado para o outro no rebalanceamento da carteira com uma mudança frequente e constante e nem espremer cada milímetro de rentabilidade. Claro, quanto maior a taxa de retorno, a rentabilidade é melhor, mas o que vai fazer diferença é poupar uma fatia maior da renda, começar mais cedo e alongar os horizontes de aplicação.
O segredo é poupar mais e o quanto antes“O segredo é começar a poupar cedo, bem antes de chegar no fantasma da aposentadoria, quando não da mais tempo. Começar cedo faz muita diferença, tem que aumentar a parcela da renda poupável. Esse é o movimento de oferta e demanda de poupança que temos que fazer no Brasil. Claro, adiar o consumo é muito mais difícil do que acreditar em alquimia financeira na escolha de um fundo de alta rentabilidade, mas é essa mensagem que tem que ser amadurecida agora que nós ingressamos em um mundo de retorno mais parecido com o que já existe em países mais maduros. Os gestores tem que ensinar a poupar mais, poupar mais cedo e a pensar em horizontes maiores do que o que nós temos no Brasil”, finalizou Giannetti.
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