Fonte: infomoney
15 % de alta em 4 semanas: ainda há de fundamento no rali da Bovespa?
Dúvidas sobre o desconto das ações brasileiras frente seus pares emergentes, risco-apagão, inflação crescente e redução no ímpeto estrangeiro assustam
SÃO PAULO - A retomada dos ganhos do Ibovespa no pregão desta sexta-feira (11) fez com que o benchmark da bolsa brasileira alcançasse sua quarta alta semanal seguida, alimentando as dúvidas sobre uma retomada de fôlego e se há novos espaços para o rali iniciado em 18 de março ser retomado. Daquela semana para cá, o índice já acumula ganhos de 15,3% e corrige os rumos da Bolsa, que até pouco tempo acumulava perdas no ano.
Mas será que há fundamentos por trás toda essa onda de otimismo? Boa parte do mercado acha que não.Para o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, as pechinchas da Bovespa não são mais tão abundantes como algumas semanas atrás.
O movimento altista da bolsa brasileira preocupa, na medida em que, até agora, tem se mostrado bastante dependente das pesquisas de intenção de voto e da piora da percepção dos investidores com a situação russa, após a anexação da Crimeia. Outro fator que contribuiu bastante foi o fato de a Bovespa ter sofrido forte desconto desde 2013.
Para engrossar o coro otimista, evoluções nas investigações sobre malfeitos envolvendo a Petrobras (PETR3; PETR4) - movimento irônico, mas que tem se repetido nas últimas semanas -, além de pesquisas eleitorais que mostram redução na "folga" de Dilma contra possíveis candidatos na corrida das eleições presidenciais, e o bom desempenho dos bancos no período, foram outros gatilhos para o voo alçado pelo Ibovespa nas últimas semanas.
No entanto, o desconto das ações brasileiras não parece mais o mesmoem relação a seus pares emergentes, acrise de apagão segue mostrando as garras aos investidores mais entusiasmados, e o fluxo estrangeiro já não parece ser o mesmo. "Seria preciso encomendar uma pesquisa eleitoral por semana [para seguir impulsionando o Ibovespa]", afirmou o analista da Empiricus Research, Felipe Miranda, no programa "Grana Preta," exibido peloInfoMoney, alertando para a falta de fundamentos para ganhos da bolsa. Se antes já não eram muito visíveis, estes parecem se esgotar cada vez mais."Parece que acabou a festa. Foi muito rápida. Foi um rali esquisito, concentrado nas eleições, bancos andaram bem, mas aquela turminha do 'value invest' não andou.
Foram calls de fluxo, e não de fundamento", observou Miranda. E ele não foi o único a ter essa percepção.
Os peixes grandes da Bovespa também já começaram a mover suas peças e sair de tamanha exposição adquirida nas últimas semanas.
Na última quinta-feira (10), Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde, que anunciou que vai reduzir exposição nas ações brasileiras, aproveitando o período de "bonança artificial" vista no Ibovespa no último mês para embolsar os ganhos conquistados.
Com o posicionamento mais cético de um dos maiores fundos de hedge do mundo, outros investidores podem começar a repensar suas posições na bolsa brasileira - o que pode sentenciar uma nova toada para o Ibovespa nos próximos dias.
O noticiário macroeconômico recente também não alimenta mais tanto otimismo.
Nesta semana, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) divulgou uma alta inesperada da inflação brasileira em março, de 0,92%.
O indicador pode trazer ainda mais instabilidade à já fragilizada economia do País, podendo exigir ainda mais "vigilância" - termo que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, gosta muito - da autoridade monetária para manter o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) abaixo do teto da meta, de 6,5%.
A Selic - elevada, hoje fixada em 11% ao ano - inibe ainda mais o desenvolvimento de boa parte das empresas nacionais, na medida em que torna investimentos ainda mais difíceis.Correções saudáveis ou fim do rali?
O assessor de investimentos da Monte Bravo Investimentos, Bruno Madruga, segue esperançoso com a Bovespa em abril, mês historicamente positivo para o mercado brasileiro.
Para ele, o fato de papéis de peso para o índice terem passado por um momento de forte penalização ajuda a dar mais força às esperanças por recuperação.
Madruga acredita que o recente rali ainda não trouxe toda a recuperação esperada para o índice.No entanto, cada vez menos gente no mercado ressalta boas expectativas.
William Alves, analista da XP Investimentos, diz que o desempenho empolgante de boa parte das ações brasileiras não deve se repetir com a mesma intensidade nos próximos dias. "O rali não deve voltar.
Ele veio por conta do fluxo [de capital estrangeiro saindo da Rússia e entrando no Brasil] e do mercado considerar possíveis mudanças de governo.
Precisamos de mais fundamentos para novas altas", conclui.
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